Época de colheita e qualidade da bebida no Estado de São Paulo
Atualmente grande ênfase tem
sido dada à qualidade de bebida do café arábica, porém, a maioria dos
cafeicultores efetua produção natural de café (sem despolpamento), sendo a
secagem executada em terreiros a céu aberto. O gradiente de continentalidade e
as variações de altitude, entre 400 e 1.300m, nas principais regiões cafeeiras
resultam múltiplas condições térmicas e hídricas. Essas combinações interferem
na fenologia do cafeeiro e condicionam cinco classes de qualidade de bebida.
A qualidade de bebida tem se mostrado satisfatório em plantios localizados em
altitudes superiores a 1.000m e em regiões de clima seco e frio no momento da
colheita. Por outro lado, o plantio em regiões sujeitas ao acúmulo de ar frio e
localização de terreiros em baixadas, proximidades de ribeirões ou represas,
demonstra que os fatores climáticos poderiam favorecer o desenvolvimento de
processos fermentativos deletérios à qualidade de bebida. As condições
climáticas de cultivo, especialmente as térmicas e hídricas, mostram-se fatores
preponderantes na qualidade de bebida e na definição da aptidão climática.
O café arábica apresenta ciclo fenológico com as fases de florescimento e
maturação ocorrendo em épocas que variam em função das condições da região de
cultivo. Uma das fases mais importantes no condicionamento da qualidade da
bebida é a 5ª fase “maturação dos frutos”, que ocorre normalmente de março a
junho. O tempo necessário para a maturação depende das condições térmicas
ocorridas no período, e pode ser estimado em função da acumulação térmica,
expressa em graus-dia (GD).
As características de clima influenciam a qualidade do café em função da
velocidade do desenvolvimento dos frutos, ocorrência de processos fermentativos
prolongados e incidência de grãos defeituosos. Quando o ciclo de produção é
muito curto, apresentam normalmente gosto amargo e adstringente concorrendo para
a formação da bebida dura. Porém, se o ciclo é longo, as transformações
bioquímicas são completadas e ocorre acúmulo de precursores levando o grão a
apresentar características mais favoráveis de bebida.
Dentre os fatores climáticos que atuam na qualidade natural de bebida do café
arábica, destaca-se a temperatura do ar por sua influência na duração do ciclo
produtivo e condicionando a época de colheita. Assim foi possível mapear a época
provável de maturação (ORTOLANI et al., 2001), como primeiro passo na
regionalização do Estado de São Paulo. Este mapeamento é baseado no acúmulo de
3.500 GD (Tb=10°C) a partir do florescimento médio (15/setembro).
Ortolani et al. (200) apresentam o mapa contendo o zoneamento com diferentes
tipos de qualidade natural da bebida do café arábica no Estado de São Paulo
baseado nas condições climáticas normais. No planalto paulista os cultivos com
época de colheita em abril-maio, situados na região noroeste, pelas temperaturas
altas antecipam a colheita tornando o ciclo mais curto, com isso dificultam a
modificação e transformação de compostos químicos resultando como característica
regional cafés de bebida dura para riado. Quando a maturação ocorre tardiamente,
após julho-agosto, como na região nordeste do Estado (Mogiana), possibilita boa
qualidade de bebida, enquanto, a média sorocabana (Avaré-Pirajú) tem a qualidade
prejudicada pela ocorrência de chuvas com mais freqüência em plena
maturação-colheita. A região da Serra do mar e da faixa litorânea tem a
qualidade de bebida muito influenciada pela alta umidade induzindo a bebida rio
e riado.
Contudo, a utilização apenas do fator térmico como condicionante da qualidade de
bebida natural do café arábica não é muito consistente, devendo ser considerado
também o fator hídrico, pois locais com clima úmido propiciam o desenvolvimento
de microorganismos que fermentam a polpa do grão de café levando a tipos de
qualidade de bebida inferiores.
Mapa da colheita
ÉPOCA ESTIMADA DO PERÍODO MATURAÇÃO-COLHEITA DE CAFÉ ARÁBICA EM FUNÇÃO DO ACÚMULO DE GD
DISTRIBUIÇÃO REGIONAL DA QUALIDADE NATURAL DE BEBIDA DO CAFÉ ARÁBICA
Fonte:
CAMARGO, M.B.P. de. Monitoramento agrometeorológico da cafeicultura. 5º Curso de
Atualização em Café. Instituto Agronômico de Campinas, 2005
ORTOLANI, A.A.; CORTEZ, J.G.; PEDRO JUNIOR, M.J.; CAMARGO, M.B.P.; THOMAZIELLO,
R.A.; ALFONSI, R.R. Clima e qualidade natural de bebida do café arábica no
estado de São Paulo. In: I Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil. Poços de
Caldas, setembro de 2000. Anais. Brasília: Embrapa-Café, 2000. v.1, p.662-664.
ORTOLANI, A.A.; PEDRO JUNIOR, M.J.; CAMARGO, M.B.P.; CORTEZ, J.G.; PALLONE FILHO,
W.J. Regionalização da época de maturação e qualidade natural de bebida do café
arábica no Estado de São Paulo. In: XII Congresso Brasileiro de
Agrometeorologia. Fortaleza, julho de 2001.