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Boletim

Manejo agrometeorológico de pragas e doenças visando aplicação de agroquímicos – uma análise preliminar

Introdução

Os seres vivos estão diretamente relacionados ao ecossistema em que vivem e respondem de maneira interrelacionada e complexa aos elementos meteorológicos.

Nas apostilas anteriores descrevem-se embora que de maneira sucinta a ação dos elementos meteorológicos sobre os vegetais e procurando enfatizar a cultura da cana-de-açúcar. Neste capitulo procurar-se-á demonstrar a ação dos elementos meteorológicos nos agentes fitopatogênicos assim como insetos.

A severidade do ataque de pragas e doenças de importância agrícola está diretamente relacionada aos fatores meteorológicos, além do que as medidas de controle para serem eficientes dependem basicamente das condições meteorológicas reinantes.

Um aspecto importante no manejo de pragas e doenças é o potencial de inoculo ou grau de infestação prévio (praga ou doença) e as características do vegetal. Obviamente a medida mais adequada, econômica e que melhor respeita o meio ambiente é o uso de variedades tolerantes ou resistentes. Porém nem sempre os programas de melhoramento genético conseguem soluções viáveis, além do que devido à alta capacidade de reprodução destes seres vivos (fungos, bactérias, vírus, insetos), novas espécies aparecem tornando susceptível uma variedade até então considerada tolerante.

Para que os agentes causadores de danos aos vegetais (pragas e doenças), com a especificidade e grau de ataque de pragas e doenças sobre a raiz, caule, folhas, flores ou frutos, possam ocorrer, quatro condições são necessárias:

  1. que haja potencial de inoculo ou de infestação próximo à cultura;
  2. que o organismo se desloque ou seja transportado para a cultura;
  3. que as condições de ambiente existentes na cultura sejam propicias e o hospede adequado;
  4. que as condições meteorológicas atuais e futuras sejam adequadas para o seu desenvolvimento e reprodução no novo ambiente.

Com a eliminação de inimigos naturais, o uso de monocultura a aplicação indiscriminada de agrotóxicos, que contribuem ainda mais com o desiquilibrio do ecossistema e a adaptação das pragas, fungos, bactérias etc aos princípios ativos, os requisitos acima mencionados são facilmente alcançados.

Desta maneira, é necessário desenvolver tecnologias para um manejo adequado das pragas e doenças, adaptados ás diferentes regiões edafoclimáticas, e que permitam entre outros que os seguintes aspectos sejam alcançados:

  1. manutenção ou preservação dos inimigos naturais;
  2. melhoria da qualidade do ambiente pela redução das intoxicações dos seres humanos pelo uso excessivo de pulverizações, e redução da contaminação dos alimentos;
  3. aplicação dos agrotóxicos no momento adequado e com as condições meteorológicas à sua aplicação;
  4. reduzir os custos de produção.

A agrometeorologia permite que os aspectos citados possam ser alcançados visando uma melhoria global do meio ambiente e tornando mais eficiente e produtivo o setor agrícola.

2. Clima e doenças das plantas

As considerações abaixo apresentadas foram transcritas de Zahler et al (1991), os quais consideram o ciclo vital dos patógenos constituídos por quatro fases que se sucedem em uma seqüência precisa:

  1. Fase de pré-penetração: corresponde à chegada, germinação e desenvolvimento do inoculo; e depende de fatores climáticos;
  2. Fase de penetração: a penetração do patógeno nos tecidos do hospedeiro se dá em determinadas condições ambientais especificas;
  3. Fase de pós-invasão: é o estabelecimento do patógeno no interior dos tecidos do hospedeiro, seguido do seu desenvolvimento e reprodução; depende de fatores ligados ao hospedeiro, com a sensibilidade dos tecidos atacados; e
  4. Fase de liberação e dispersão: o inoculo é liberado e dispersado entre os hospedeiros sadios que ficam ao redor da planta atacada, e, para isto, fica na dependência de fatores climáticos.

2.1. Principais fatores meteorológicos que favorecem os agentes causadores de doenças vegetais

2.1.1 Vento

Juntamente com a água, o homem, os animais e os instrumentos agrícolas é um dos principais agentes de disseminação dos fitopatógenos, transportando-os a longas distâncias, tanto no sentido vertical como no sentido horizontal.

2.1.2 Precipitação pluviométrica

É um importante agente de disseminação de patógeno em pequenas distancias, pois, a gota de chuva, caindo sobre as lesões, leva esporos para outros órgãos da mesma planta ou para plantas vizinhas através dos repingos.

2.1.3 Luz

Pode estimular (p. ex. Phytophtora infestans) ou inibir (Mastigomycotina) o desenvolvimento dos patógenos ao incidir diretamente sobre elas. Alguns fungos desenvolvem-se melhor em luz difusa (Urocystis oculta), ao passo que outros crescem vegetativamente na obscuridade e necessitam de luz para frutificarem.

2.1.4 Temperatura

Cada espécie de parasita exige temperaturas mínima, ótima e máxima para cada etapa do seu ciclo vital, as quais influenciam o crescimento vegetativo, o tamanho e o número dos esporos e, além de nem sempre coincidirem, podem variar de 0o a 90oC. Normalmente, a temperatura ótima para o crescimento de um fungo corresponde à temperatura ideal para a sua reprodução assexuada, enquanto que as condições adversas para o crescimento do micélio induzem-no à reprodução sexual. Por exemplo, Phoma apiicola, agente de “podridão da haste”, pode crescer entre 5 e 28 ºC, mas só forma esporos entre 13 e 26 ºC.
O tempo entre a inoculação e a produção de esporos diminui à medida que a temperatura aumenta.

2.1.5 Umidade

Os patógenos respondem de modo diferente à umidade, mas, de uma maneira geral, os fungos necessitam de muita umidade para o seu crescimento. Assim como a temperatura, existem valores mínimos, ótimos e máximos de umidade para cada fase do ciclo vital dos patógenos. Os esporos de Alternaria brassicae, Colletotrichum gloeosporioides e Ustilago maydis, por exemplo, exigem umidade atmosférica acima de 90% para germinarem.

A falta ou excesso de umidade no solo pode provocar estresse nos vegetais e, consequentemente, torná-los susceptíveis à ação de agentes fitopatogênicos.

O período de tempo que o vegetal permanece úmido, chamado “período de molhamento”, também é importante para o estabelecimento de uma doença, determinando a intensidade da infecção. Um dos exemplos típicos de infestação por fungo onde o período de molhamento é importante é o do “mal das folhas” em seringueira, ocasionado pelo fungo Microciclus ulei.

3. Principais fatores meteorológicos que atuam sobre as pragas

3.1 Temperatura do ar

É um dos principais elementos que influenciam decisivamente o desenvolvimento de um inseto nas suas várias fases evolutivas.

Um dos primeiros trabalhos avaliando o efeito da temperatura do ar sobre o dano causado por insetos foi desenvolvido por Brunini et al (1976) trabalhando com a curuquerê de couve (Ascia monuste orseis) sob condições controladas. Estes autores observaram que a temperatura ideal para desenvolvimento deste inseto era 25ºC. Posteriormente, Kasten et al (1984) e Parra et al (1984) determinaram as constantes térmicas e a duração das diferentes fases evolutivas da curuquerê do algodoeiro (Alabama argillacea). Estes autores observaram que a temperatura base e a constante térmica era um fator característico de cada fase evolutiva.

3.2 Umidade do Ar e do Solo

O excesso ou a falta de umidade pode ser prejudicial aos insetos. Em um ar muito seco, muita água pode ser perdida; e, em um local muito úmido e quente, os insetos podem não ser capazes de se resfriarem pela transpiração. Por serem pequenos, sua superfície corporal é muito grande em relação à sua massa, dificultando a conservação da água em seu organismo. Por isso, possuem uma fina camada epicuticular cerosa que reduz ao mínimo a perda de água por transpiração.

Os insetos do deserto tendem a ter pernas longas, o que matém seus corpos afastados da areia quente e evita a dessecação.

Por serem vulneráveis à perda de água, os insetos procuram abrigo sob as folhas durante o dia, produzem espuma (Homóptera, Cercopidae), vivem dentro dos tecidos vegetais (bichos-mineiros e insetos de galhas) ou, como os afídeos, “encaixam-se” no sistema vascular das plantas; e, em condições de baixa umidade, requerem mais alimento e energia do que em condições ótimas intensificando o ataque sobre as culturas.

3.3. Luz

Determina a presença dos animais em um habitat porque ontrola o crescimento da vegetação.

4. Parâmetros biometeorológicos

Os parâmetros biometeorológicos dos insetos ou mesmo dos fitopatógenos, referem-se aos limites de temperatura do ar ou do solo, umidade atmosférica, umidade do solo, e até precipitação pluviométrica que favorecem ou até inibem o desenvolvimento das diversas fases evolutivas destas pragas ou patógenos.

Em muitos casos há falta de estudos básicos que permitam quantificar o efeito das variáveis meteorológicas no comportamento dos insetos, bactérias, fungos, vírus, etc; os parâmetros biometeorológicos são estimados em função de citação bibliográfica sobre o dano ocasionado em determinada condição ambiental.

Um exemplo é o estimado para as pragas abaixo.

4-A. Lagarta do Cartucho (Spodoptera frugiperda)

Período de maior incidência – outubro a janeiro, porém podem ocorrer ataques severos em cultura safrinha em períodos de baixa precipitação

Condições climáticas que favorecem:

Condiçoes climáticas que desfavorecem:


4-B. Diabrótica (Diabrótica spp)

Período de maior incidência – ano todo

Condições climáticas que favorecem:

Condições climáticas que desfavorecem

4-C. Cigarrinha-do-milho (D. maidis)

Período de maior incidência – ano todo

Condições climáticas que favorecem:

Condições climáticas que desfavorecem:

Com base nestes aspectos podem-se preparar mapas agrometeorológicos de possibilidade mensal ou mesmo semanal de ocorrência da infestação destes insetos causadores de danos à cultura do milho. Tal aspecto permite organizar adequadamente os estoques de defensivos agrícolas e o tipo apropriado para cada praga potencial, permitindo além disto, que os próprios produtores tenham maior informação sobre o manejo adequado do agroquímico a ser recomendado.

Os parâmetros envolvidos para delimitação das condições agrometeorológicas que favorecem o desenvolvimento destas pragas adotados nestes estudos foram os seguintes:

Os limites térmicos e hídricos estabelecidos de acordo com os aspectos levantados e de efeito no comportamento e desenvolvimento de cada inseto foram os seguintes:

  1. DIABRÓTICA
  2. Fator Térmico

Temperatura Máxima Média do Ar – 26 a 32ºC
Temperatura Mínima Média do Ar – 14 a 18ºC

  1. Fator Hídrico

Total de precipitação diária de 20 mm
Número de dias com precipitação igual ou superior a este limite
Total de precipitação em 2 dias consecutivos superior ou igual a 60 mm

  1. LAGARTA DO CARTUCHO
  2. Fator Térmico

Temperatura Máxima Média do Ar – 26 a 33 ºC

Temperatura Mínima Média do Ar – 14 a 18 ºC

  1. Fator Hídrico

Total de precipitação de 20 mm

Número de dias com precipitação igual ou inferior a este limite

            C- CIARRINHA

            a) Fator Térmico

Temperatura Máxima Média do Ar – 26 a 32 ºC

Temperatura Mínima Média do Ar - 16 a 20 ºC

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