FENOLOGIA DO CAFEEIRO

      A fenologia pode ser definida como o estudo dos eventos periódicos da vida da planta em função da sua reação às condições do ambiente. Na cultura do cafeeiro arábica, nas condições de cultivo da maioria das regiões do Brasil, podem ser distinguidas as fases preparativa e construtiva durante seu ciclo fenológico. No período seco, associado a baixas temperaturas, ocorre a fase preparativa, que não se manifesta claramente por caracteres externos. Durante o período quente e chuvoso predomina a fase construtiva, onde se manifestam as atividades de crescimento dos ramos, folhas, gemas, flores e frutos. Durante a fase construtiva existe uma competição entre o crescimento vegetativo e o processo de frutificação, evidenciada pelos anos alternados de grandes e pequenas produções.
      A ordenação das fases fenológicas possibilita determinar as relações e o grau de influência dos fatores envolvidos. Nesse sentido, Camargo & Camargo (2001) descreveram a sucessão das fases vegetativas e reprodutivas dos cafeeiros da espécie Coffea arabica L., nas condições climáticas tropicais do Brasil, (Figura abaixo), que ocorrem em aproximadamente dois anos, diferentemente da maioria das plantas que emitem as inflorescências na primavera e frutificam no mesmo ano fenológico. O ciclo fenológico, para as condições climáticas tropicais do Brasil, foi subdividido em seis fases distintas: (1) vegetação e formação das gemas foliares; (2) indução e maturação das gemas florais; (3) florada; (4) granação dos frutos; (5) maturação dos frutos e (6) repouso e senescência dos ramos terceários e quaternários.

Esquematização das seis fases fenológicas do cafeeiro arábica, durante 24 meses, nas condições climáticas tropicais do Brasil. (extraído de Camargo & Camargo, 2001)

     No primeiro ano fenológico são formados os ramos vegetativos, com gemas axilares nos nós, que depois são induzidas a se transformarem em gemas reprodutivas, sendo esse processo determinado por condições ambientais como redução do fotoperíodo. Posteriormente essas gemas florais amadurecem, entram em dormência e se tornam aptas para a antese, que ocorre, causada principalmente por chuva ou irrigação abundante.O segundo ano fenológico inicia-se com a florada, seguida pela formação dos chumbinhos e expansão dos grãos, até seu tamanho normal. Havendo estiagem forte nessa fase, o estresse hídrico prejudicará o crescimento dos frutos, resultando em peneira baixa. Após essa fase, segue-se a granação dos frutos, em pleno verão, de janeiro a março. Estiagens severas na fase de granação poderão resultar no aparecimento de frutos chochos. A produção é finalizada com a maturação dos frutos, que ocorre a partir de abril, para as condições de cultivo do planalto paulista, onde deficiências hídricas moderadas poderão beneficiar a qualidade da bebida.
     Visando detalhar o período reprodutivo do cafeeiro, Pezzopane et al. (2003) apresentam uma escala de avaliação de estádios fenológicos, desde a fase de gema dormente até o estádio de grão seco.
     Após o período de repouso das gemas dormentes nos nós dos ramos plagiotrópicos (0) ocorre aumento substancial do potencial hídrico nas gemas florais maduras, devido, principalmente, à ocorrência de um “choque” hídrico provocado por chuva ou irrigação. Nesse estádio, as gemas entumecem (1) e os botões florais crescem devido a grande mobilização de água e nutrientes (2), que se estendem até a abertura das flores (3), e posterior queda das pétalas (4).
     Após a fecundação, principia a formação dos frutos, fase denominada “chumbinho” (5), quando os frutos não apresentam crescimento visível. Posteriormente, os frutos se expandem (6) rapidamente. Atingindo seu crescimento máximo, ocorre a formação do endosperma, que segue a fase de grão verde (7), com a granação dos frutos. Para a diferenciar o fim da fase 6 e início da 7 é necessário realizar um corte transversal em alguns frutos para se verificar o início do endurecimento do endosperma (Figura 1).
     A partir da fase “verde cana” (8) que caracteriza o início da maturação, os frutos começam a mudar de cor (verde para amarelo), evoluindo até o estádio “cereja” (9), e já se pode diferenciar a cultivar de fruto amarelo ou vermelho. A seguir, os frutos começam a secar (10) até atingir o estádio “seco” (11).

Escala para determinação de estádios fenológicos do café arábica (extraído de Pezzopane et al., 2003)

Fonte:
 - CAMARGO, A.P.; CAMARGO, M.B.P. Definição e esquematização das fases fenológicas do cafeeiro arábica nas condições tropicais do Brasil. Bragantia, v. 60, n. 1, p. 65-68, 2001.
 - PEZZOPANE, J.R.M., PEDRO JÚNIOR, M.J., THOMAZIELLO, R.A., CAMARGO, M.B.P. Escala para avaliação de estádios fenológicos do cafeeiro Arábica. Bragantia, v. 62, n.3, p.499-505, 2003.