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Boletim

Zoneamento macro - Aptidão ecológica da cultura da seringueira

Mapa da aptidão da cultura da seringueira

Aptidão climática para a cultura da seringueira

O habitat da seringueira (Hevea brasiliensis Muell. Arg.) situa-se, segundo Ferrand (1944), no Sudoeste da Bacia Amazônica. Essa região compreende o Estado do Acre, áreas vizinhas do Peru, Bolívia e Estados do Amazonas e Rondônia.

No Estado de São Paulo, até cerca de 23ºS no Planalto e 25ºS no litoral, em condições quase subtropicais, numerosos campos experimentais e culturas comerciais vêm se desenvolvendo, sem qualquer problema ligado ao clima (Camargo, 1963; Cardoso, 1968; Martinez, et al., 1969). O seringal mais antigo do Planalto Paulista, plantado em 1916/17, acha-se em Gavião Peixoto, próximo a Araraquara (Camargo, Felisberto, 1958).

Um problema grave da heveicultura em zonas equatoriais é a incidência da moléstia conhecida como mal-das-folhas ou queima-das-folhas, causada pelo fungo Microcylus ulei P.Henn V. Arx. ou Dothidella ulei P.Henn. Essa enfermidade tem se constituído em sério obstáculo à implantação das culturas comerciais nas regiões tropicais-equatoriais brasileiras, exigindo o plantio de material resistente ao mal, em geral menos produtivos, ou o emprego de técnicas especiais que encarecem a produção.

O mal-das-folhas, entretanto, não encontrou condições ambientais favoráveis à incidência de forma epidêmica na situação climática, praticamente subtropical do Estado de São Paulo. O fungo está presente endemicamente desde o início da década de 1960, mas a incidência não assume o caráter de epifitia, mesmo em plantações de material altamente susceptível (Camargo et al., 1967).

Os citados autores, estudando o comportamento ecológico e fonológico do fungo causador do mal-das-folhas e da seringueira nas condições climática do Vale do Paraíba e do Paulista, apresentaram as seguintes conclusões:

a) a moléstia ocorre unicamente em plantas situadas em terrenos de baixada, mal drenados, onde a alta umidade atmosférica noturna e o orvalhamento prolongado favorecem a infecção e o desenvolvimento do fungo;

b) mesmo em terreno de baixada a infecção fica restrita às brotações que aparecem no período de janeiro a abril, quando as condições ambientais, topoclimáticas, se apresentam mais favoráveis;

c) as folhas brotadas no período livre de infecções, de maio a dezembro, mantêm-se normalmente sadias no resto do ano fenológico, mantendo as plantas bem enfolhadas, ainda que os lançamentos foliares afetados fossem destruídos pelo fungo;

d) a esporulação fica paralisada nos meses de invernos, mais frios, interrompendo anualmente o potencial do inóculo e a propagação da enfermidade;

e) unicamente material muito susceptível à moléstia tem sido afetado e apenas em condições topoclimáticas e sazonais, as mais propícias à infecção;

f) em condições de campo, a manifestação do mal-das-folhas se verifica quando a freqüência superior a 12 por mês, de noites, com umidade relativa elevada, superior a 95%, por mais de dez horas consecutivas, essa condição é muito freqüente na região litorânea; no Planalto é relativamente freqüente em terreno de baixada e praticamente inexistente em terrenos elevados, bem drenados dos interflúvios;

g) as condições climáticas do Planalto Paulista e áreas similares dos Estado vizinhos não se mostram propícias à manisfestação do mal-das-folhas, mesmo cultivando-se clones e materiais altamente susceptíveis à enfermidade.

Em estudo sobre a aptidão climática da heveicultura no Brasil, Camargo (1971), utilizou o índice de 20 ºC de temperatura média do mês mais frio, para definir o limite abaixo do qual a região não apresentaria condições climáticas favoráveis à incidência da Dothidella, mostrando-se livre da manifestação da moléstia em caráter epidêmico.

Como Planta originária d Bacia Amazônica, região caracterizada pelo clima equatorial quente úmido, é crença geral que a seringueira exige muito calor e umidade para se desenvolver bem e dar produções elevadas de látex. Para as condições do Estado de São Paulo, inclusive para o Planalto, que se acha ao redor de 500 a 600 metros de altitude, o início da sangria não é muito demorado. Cunha (1966), estudando seringal em Pindamonhangaba, no Vale do Ribeira, a cerca de 500m de altitude, verificou que aos sete anos de idade havia cerca de 70% de árvores com mais de 45cm de circunferência no tronco, preenchendo as exigências para o início da sangria em regime normal de exploração. As produções de borracha seca, numa base de 150 sangrias anuais, foram estimadas para o 7, 8 e 9º anos de idade, respectivamente, de 460, 620 e 835 kg por hectare.

Exigências climáticas

Com base no fato de a seringueira se desenvolver satisfatóriamente nas condições do Planalto Paulista da região de Campinas para o interior, ou seja, ao norte do paralelo 23º e abaixo da altitude de 700 metros, foi possível definir os parâmetros indicativos da aptidão térmica para a cultura da seringueira. Carmargo (1956, 1959, 1971) propôs os parâmetros de 20 ºC de temperatura média anual ou a evapotranspiração potencial anual de 900 mm para indicar o limite acima do qual a área pode ser considerada termicamente apta para a cultura comercial da seringueira.

Quanto ao fator hídrico, o mesmo autor em trabalhos de zoneamento de aptidão climática para a cultura da seringueira no Brasil, adotou o parâmetro de 150 mm de deficiência hídrica anual, segundo balanço de Thornthwaite & Mather (1955), para indicar o limite acima do qual haveria problemas por falta de água no solo e iniciaria a inaptidão climática para a cultura comercial.

Esse limite de 150 mm foi estimado para o balanço hídrico efetuado admitindo-se uma retenção de 30 mm de água na zona das raízes. No caso, porém, dos balanços utilizados neste trabalho, preparados, considerando um retenção de 125 mm, o referido limite de inaptidão passaria de 150 para 250 mm, um valor muito maior.

No Estado de São Paulo as deficiências hídricas anuais mais elevadas, que se verificam no extremo norte junto ao rio Grande, estão em torno de 160 mm e portanto bem aquém do limite de 250 mm admitindo como indicativo da marginalidade ou inaptidão climática para a cultura da seringueira.

Para indicar a capacidade vegetativa de culturas perenes como a seringueira, Camargo (1971) propôs o emprego do parâmetro evapotranspiração real anual, segundo Thornthwaite & Mather (1955). Esse elemento corresponde à diferença entre a evapotranspiração potencial anual, que representa a capacidade energética de vegetação e a deficiência hídrica anual, que corresponde às restrições trazidas à capacidade energética. Assim, quanto maior a evapotranspiração potencial e menor a deficiência hídrica no curso do ano, maior a capacidade vegetativa da região considerada.

Cunha (1963), estudando o comportamento de seringueiras, platadas em Campinas, onde obterve em sete sucessivas colheitas, do 12 ao 18º ano, produções médias consideradas bastante elevadas, da ordem de 4kg de borracha seca por planta por ano ou o correspondente a 1600kg por hectare. Esse resultado é bastante representativo da capacidade de produção do planalto. Campinas, com a evapotranspiração real anual da ordem de 935 mm, está muito próxima do limite de 900 mm, abaixo do qual a área seria considerada inapta por insuficiência térmica ou na capacidade vegetativa.

Parâmetros climáticos adotados

O preparo da carta de zoneamento da aptidão agroclimática da seringueira para este trabalho foi baseada nos parâmetros adotados por Camargo (1971). Não foram, porém, considerados muito elevadas para a heveicultura e os das temperaturas médias do mês frio, que separa as áreas consideradas sujeitas das admitidas como livres da incidência grave da moléstia.

O valor de 150 mm de deficiências hídricas anuais, para 300 mm de capacidade de retenção de água no solo, admitindo como limitante para a plena aptidão climática a heveicultura, está muito acima das deficiências hídricas mais elevadas normalmente encontradas no território paulista. Em um balanço hídrico preparado par 125 mm de capacidade de retenção de umidade, aquele limite de 150 mm corresponderia a cerca de 250 mm. Dados demonstram que as mais elevadas deficiências hídricas verificadas no extremo norte, junto ao rio Grande, pouco ultrapassaram a 160 mm.

Quanto à temperatura média do mês mais frio, foi verificado que o limite acima do qual a enfermidade encontra condições de assumir caráter grave, praticamente não ocorre no Estado.

Os parâmetros empregados para caracterizar as diferentes faixas de aptidão climática para a heveicultura nas condições do Estado de São Paulo foram as seguintes:

a) evapotranspiração real anual (Era) = 900 mm: corresponde o limite acima do qual a faixa apresenta aptidão térmica ou capacidade vegetativa satisfatória para a cultura comercial;

b) Temperatura média anual (Ta) = 18 ºC: indica o limite abaixo do qual a faixa se apresenta demasiadamente fria e sujeita às geadas, tornando-a inapta à cultura da seringueira;

c) deficiência hídrica anual (Da) = 0 mm: indica a condição de ausência de estação seca, ou de umidade elevada o ano todo, favorescendo a incidência de moléstias, inclusive do mal-das-folhas, nos terrenos de baixada e mal drenados.

Cartografia – faixas de aptidão climática

As faixas de aptidão climática adotadas a Cultura da Seringueira, em São Paulo, são as seguintes:

Faixa "A" – Evapotranspiração real (Er), superior a 900 mm e Da, acima de zero. Indica plena aptidão climática para a cultura da seringueira. As condições térmicas e hídricas mostram-se satisfatórias à vegetação e a produção da planta, mas desfavoráveis à incidência do mal-das-folhas. A faixa abrange quase todo o Planalto Paulista e as partes baixas do Vale do Paraíba.

Faixa "B" – Er, superior a 900 mm e Da, nulo. As condições térmicas e hídricas são favoráveis à planta, mas falta de estação seca, favorece a manifestação de epifitias, do mal-das-folhas nos terrenos de baixada, mais úmidos. A faixa compreende, particularmente às áreas litorâneas e do Vale do Ribeira do Iguape.

Faixa "C" – Er inferior a 900 mm e Ta, superior a 18 ºC. A faixa se apresenta marginal à cultura da seringueira por restrição térmica e incidência freqüente de geadas severas, particularmente em terrenos mal drenados. A faixa situa-se no sul e leste do planalto, nas fraldas das Serras do Mar e da Mantiqueira.

Faixa "D" – Ta inferior a 18 ºC. É considerada inapta a heveicultura por insuficiência térmica e por estar muito sujeita à incidência de geadas severas. A faixa compreende as áreas serranas, mais elevadas e muito frias, das Serras do Mar e da Mantiqueira.

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